Rio de Janeiro, 1909. O Pavilhão In­ter­na­ci­o­nal Pas­cho­al Segreto, na Avenida Rio Bran­co, está lotado. No ringue, de um lado, o conde ja­po­nês Koma, campeão de jiu-jitsu. De outro, Ci­rí­a­co Fran­cis­co da Silva, o Macaco, ca­po­ei­ris­ta. A peleja começa com gin­gas e sal­tos de Ciríaco, o conde Koma se es­qui­van­do. Ci­rí­a­co desfere um rabo-de-arraia na al­tu­ra da cin­tu­ra. Koma abai­xa-se demais, é atin­gi­do na ca­be­ça e se pre­ci­pi­ta na segunda fila de ca­dei­ras da pla­téia. De­sa­cor­da­do, san­gran­do pelo nariz, le­vam-no à San­ta Casa.

Macaco vira herói, o público canta o Hino Na­ci­o­nal, lança chapéus para o ar, dá gritos e urras. Nos braços da multidão, Ciríaco segue em cor­te­jo pela Avenida Central.      

 

 

Em Salvador por volta de 1920 o chefe de polícia Pedrito de Azevedo Gordilho, perseguiu não só as rodas de capoeira, mas também o samba e o candomblé.  Nessa mesma época surge em Santo Amaro, Besouro Mangangá ou Besouro que foi um dos maiores capoeiristas da Bahia um dos mais admirados e citado em canções nas rodas de capoeira. Nascido em 1897, era filho de João Grosso e Maria Haifa, chamava-se MANOEL HENRIQUE. Aprendeu Capoeira com o escravo chamado Tio Alípio. Ganhou o apelido de Besouro (inseto de picada venenosa) devido a crença popular que dizia que quando ele arrumava alguma enrascada e o número de inimigos era grande alem do que ele poderia suportar, não sendo possível vencê-los ele se transformava em besouro e saia voando. Sua escola de Capoeira ficava em Santo Amaro, onde fez discípulos como Cobrinha Verde que também era seu primo. Era exímio capoeira e faquista perigoso. Tinha o "corpo fechado" e não gostava de polícia. Em 1924, empregou-se de vaqueiro na fazenda de um senhor conhecido pelo nome de Dr. Zeca. Este fazendeiro tinha um filho de nome Memeu que era muito genioso. Ele teve uma discussão com Besouro, seu pai temendo por sua vida, mandou Besouro se empregar em uma usina onde tinha um amigo administrador. Mandou então uma carta para ele, pelo próprio Besouro que não sabia ler. Esta carta pedia que dessem fim nele por lá mesmo. O administrador lendo a carta disse a Besouro, que esperasse a resposta até o dia seguinte. Besouro passou a noite em um prostíbulo e no dia seguinte foi buscar resposta. Quando chegou foi cercado por uns 40 homens os quais lhe atiraram, as balas nada lhe fizeram, mas um homem o feriu pelas costas com uma faca de tucum (madeira com resistência de ferro, alguns diziam que esta tinha poderes mágicos). Morreu aos 27 anos de idade.

 

Eis uma de suas façanhas narrada por seu ex-aluno Cobrinha Verde: "Certa vez estava sem trabalho e foi procurar um ganha pão. Foi a uma usina e deram-lhe trabalho. Quando foi no dia do pagamento ele sabia que o patrão tinha o hábito de chamar o trabalhador uma vez, e na segunda dizia: "quebrou para São Caetano", que queria dizer: não recebe mais. E se o fulano reclamasse era chicoteado e ficava preso no tronco de madeira com o pescoço, os braços e as pernas no tronco por um dia e depois era mandado embora. Na hora do pagamento disse a Besouro "quebrou para São Caetano".

Todos receberam o dinheiro menos Besouro. Besouro então invadiu a casa do homem e gritou: - "pague o dinheiro de Besouro Cordão de Ouro! Paga ou não paga!"O patrão rapidamente mandou que pagassem o dinheiro daquele homem. Besouro tomou o dinheiro e foi embora".

Besouro também não gostava de polícia. Muitas vezes encontrava companheiros que iam presos e os tomava da mão de qualquer soldado, batia em todos, tomava-lhes as armas, levava-as até o quartel e dizia: "ta aqui, seus morcegos" e jogava as armas. Um dia ele estava em frente ao Largo da Cruz e passou um soldado. Besouro o forçou a tomar uma cachaça. O soldado saiu dali para o quartel e fez queixa ao tenente que mandou 10 soldados para prender Besouro, vivo ou morto. Chegando lá deram ordem de prisão. Besouro saiu do botequim de costas, foi para a cruz, encostou-se nela, abriu os braços e disse que não se entregava. Os soldados começaram a atirar. Besouro fingiu estar baleado e caiu, os soldados acharam que ele estava morto e se foram. Besouro então se levantou e saiu cantando.   

 

 

Manduca da Praia, foi conhecido e temido pela policia e pelos próprios capoeiristas. Auto, forte de barba e cabelos ruivos, viveu por volta de 1850, demonstrando superioridade a todos os capoeiristas daquela época no Rio de Janeiro, mesmo sendo uma época em que viveram terríveis capoeiristas como, por exemplo: Aleixo Açougueiro, Quebra Coco, Pedro Cobra, Bem-te-vi, Mamede e muitos outros.

Desde cedo Manduca já demonstrava agilidade saltando touros bravos, como também, no uso do punhal, da navalha e do Petrópolis, que é uma comprida bengala de madeira-de-lei, companheira quase que inseparável de Manduca e de todos os valentões da época.Também se destacando na malicia do soco, da banda e da rasteira, entre varias outras coisas. No entanto, se destacava dos outros pela sua frieza e calculismo, da inteligência que possuía em comparação aos seus companheiros (rufiões, gigolos, valentžes etc.).

Manduca era um capoeirista por conta própria, pois naquela época a capoeira, era muito perseguida pela policia e, para se ser capoeirista era mais seguro e racional, fazer parte de alguma gang, sendo que as mais fortes, eram os Nagos e os Guaiamus, que eram as que comandavam o Rio de Janeiro naquela época, bem semelhante as gangs do tráfico de hoje em dia. Porem o Manduca queria muito mais do que fazer parte de uma gang, coisa que poderia lhe atrapalhar em seus negócios, pois possuía uma banca de peixe e era guarda-costas de pessoas ilustres e, principalmente políticos. Nas eleições do bairro de São José, pintava o Diabo e, nos esfaqueamentos, ninguém possuía a mesma competência. 
Devido a sua grande influencia, respondeu a 27 processos por lesões corporais leves e graves, e não foi punido por nem um, saindo-se totalmente ileso. Manduca ainda se tornou mais celebre, com a chegada do deputado português Santana que gostava de desafios de briga de rua, que era uma coisa semelhante ao vale tudo de hoje, só que não avia pontos e nem juizes, perdia aquele que fosse a lona ou pedisse arrego, sendo que o ultimo era negado algumas vezes. 
Manduca foi então desafiado e foi o grande campeão, deixando Santana abismado com tanta destreza. Apos o combate, os dois saíram abraçados e foram tomar champanhe se tornando grandes amigos. Manduca da Praia era um campeão da Capoeira da época no Rio de Janeiro, uma Capoeira que não possuía musica ou qualquer tipo de instrumentos, era quase que uma briga de rua. 
Manduca como dito anteriormente, era alto, claro barba pontuda ruiva e cabelos da mesma cor; nunca deixava de lado o seu casaco comprido e de tecido grosso e, uma corrente de ouro de que pendia o seu relógio também de ouro. Manduca levou uma vida com certas regalias, pois a sua banca de peixe, era um negocio que lhe rendia bons lucros.

 


Agenor Moreira Sampaio, mais conhecido como Sinhozinho de Ipanema, era paulista, nascido em Santos, em 1891, e tendo falecido em 1962. Dotado de extraordinário vigor físico, destacou-se em várias modalidades esportivas.  Embora tenha terminado seus dias em Ipanema, morou muitos anos em São Cristóvão e em Copacabana. Aprendeu sua capoeira observando os bambas de sua época, convivendo com os boêmios, com os valentes e os malandros do Rio de então. Tendo praticado outras formas de luta, como o box e a luta greco-romana, via a capoeira como luta, sem se dedicar a seus aspectos de música, folclore e atividade acrobática. Os capoeiras do Rio de Janeiro usavam sua arte para brigar, enfrentar seus adversários sem nenhum espírito esportivo, antes, freqüentemente, em disputa de seus territórios. A navalha e a faca eram seus companheiros constantes, causando ferimentos e mortes ao final das contendas.  Provavelmente por isto, a capoeira é pobre em recursos para a luta agarrada e se completava com estas armas. No Clube do Sinhozinho se praticava levantamento de pesos, ginástica em aparelhos, box, capoeira, etc..Existiam, então, muito poucas academias no Rio de Janeiro e a rapaziada de Ipanema tinha aí oportunidade de cuidar do físico e aprender diversas modalidades desportivas. À noite, os atletas se reuniam nos bares próximos para o papo e as cervejas, daí muitos terem se especializado mais nos chopes do que nas atividades físicas.  Mas aqueles que se dedicavam aos treinamentos recebiam atenções especiais do mestre e muitos se tornaram atletas destacados, tendo  alguns se orientado para o magistério. Entre os que se exercitaram sob a orientação de Sinhôzinho podemos destacar: Paulo Azeredo, Paulo Amaral, Sílvio M. Padilha, André Jansen, Bruno e Rudolf Hermanny, Luiz Pereira de Aguiar (Cirandinha), Eloy Dutra, Carlos Alberto Petezzoni Salgado, Joaquim Gomes (Kim), Telmo Maia, Tom Jobim, Carlos Madeira, Darke de Mattos, Comandante Max, Paulo Lefevre, Paulo Paiva, Bube Assinger, Wanderley Fernandes (Paraquedas), José Alves (Pernambuco), Roberto Gomes, Bob Onça, Carlos Pimentel, Lucas e Haroldo Cunha, Manoel Simões Lopes, Flávio Maranhão, Carlos Alberto Copacabana, e numerosos outros.  Foram gerações sucessivas, daí a dificuldade de citar todos. A Capoeira de Sinhozinho se aproximava mais da Regional do que da Angola.  Selecionados os golpes que lhe pareciam mais eficazes, Sinhozinho impunha a seus alunos um rígido treinamento repetitivo, fazendo-os aplicar os golpes em sacos e bolas, até que alcançassem precisão e eficiência, além de usar artifícios engenhosos para desenvolver suas habilidades. Sem canto ou ritmo marcado,  sua capoeira revela, apenas, a face de luta desta atividade.  Sacrifica a beleza do som e da imagem na busca de objetividade marcial.
*A  capoeira de Sinhozinho era baseada na capoeira  das antigas maltas que tanto perturbaram as autoridades do  Rio de Janeiro durante longos anos e teve pouca influência das  modalidades praticadas ao som do berimbáus .