Puxada de Rede

Os descendentes dos escravos africanos continuam a pescar xaréu no litoral da Bahia. No início pescavam também baleia.  Hoje  vivem  no litoral  e pescam nas praias de Armação, Chega-Negro,Carimbamba.O xaréu é um grande peixe ,de carne escura, que anualmente,  no  seu  ciclo  de vida,  vem  cumprir  a  sua função procriadora da desova. Aparece  nas praias  nordestinas, principalmente nas da Bahia, na época do calor, procurando um clima mais quente, entre outubro e abril.

A rede imensa é colocada numa jangada muito pesada, que desliza sobre troncos, rolando até dentro da água. Os remadores vencendo a rebentação  do mar colocam a rede dentro  d'água e prendem nas"amarrações". Começam os cantos para que a pescaria seja farta. Aproxima-se o cardume de xaréu.

As canoas pequenas levam  os  mergulhadores e o mestre do mar. Os mergulhadores mergulham, dentro da rede para verificar se os peixes já estão presos.Voltam à tona. Até que o mestre do mar dá o sinal com um apito.  Depois faz sinais  com o chapéu  de palha para  a praia dizendo se há pouco ou muito peixe. Há, desta vez, muito peixe. Começa  a  grande  labuta que  é uma festa. O mestre de terra trabalha em conjunto com o mestre do mar. Começa  a  puxada  da  rede.   As  mulheres  dos  pescadores e o povo da praia ajudam para ganhar  o  "lava-pé"  (peixe pequeno de graça). A  rede  vai  sendo  puxada  enquanto  os  cantadores cantam batendo o ritmo com os pés, sincronizando o trabalho.
As duas pontas das redes vão se aproximando, e breve ela deixará  na  praia  o  presente do mar. Peixes enormes prateados que pulam,  ainda  vivos. Chegam  os "jegues" (burricos) que vão levar o peixe para ser vendido, ou os "caminhões de xaréu", quando   a  pesca é muito grande.  A rede  é recolhida e todos cantam  agradecendo a boa pescaria .Maisde cinqüenta pescadores se submetem ao comando de um chefe geral, ajudado pelo mestre do mar e o   mestre  de  terra usa um apito pendurado  no  peito e um bastão com um arpão na ponta, para pegar os peixes que fogem da rede. Cada mestre tem um grupo de uns vinte homens sob seu comando.

A LENDA

Conta  a  lenda que  em uma certa noite de lua cheia, um pescador, decide ir pescar em alto mar . Ao se despedir de sua mulher, ela lhe avisa dos perigos de se pescar á noite e pede para que ele não vá . Mesmo assim ele decide ir, deixando sua esposa e filhos agoniados . Leva consigo a imagem da Nossa Senhora dos Navegantes, a benção divina e seus amigos e companheiros de trabalho . Sua esposa fica á beira da praia esperando o seu retorno.
Ela se  assusta  como  o  retorno  mais cedo  do que o esperado do barco, com seu tripulantes todos tristonhos e alguns chorando,  mas  não  vê  seu  marido e  o procura desesperadamente .  Ao desembarcar, os  pescadores a contam que  num descuido  o  marido dela havia caído no mar e devido a escuridão não foi possível encontrá-lo . Pela manhã, quando  os  pescadores  desanimados com o acontecido, vão puxar a rede, e acabam encontrando o corpo do amigo pescador . Devido a  situação  precária  em que eles viviam, não foi possível comprar um caixão para poder fazer o enterro e a procissão foi feita com ele nas costas .